Como a descoberta de um químico charlatão mudou o mundo


Johann Böttger era um mágico de rua que nasceu e viveu em Berlim, onde foi aprendiz de um farmacêutico influente. Böttger, então, desenvolveu interesse pela química e decidiu fazer experimentos maluquinhos em todas as suas horas livres e com todos os tipos de produtos químicos que tinha a sua disposição. Nessa época, ele tinha a ideia modesta de criar um processo que transformasse chumbo e outros metais sem valor em ouro. Coisa simples.


Com um pouco lábia, ele meio que convenceu as pessoas de que ele tinha realmente conseguido realizar tal feito. Então, deu um passo a diante: ainda adolescente, começou a “realizar a façanha” em um show de rua. Ele reunia uma multidão em volta dele e mostrava peças de prata; com alguns gestos bastante teatrais e algumas soluções químicas, ele, ABRACADABRA!, transformava essas peças de prata em uma única peça de ouro.

Ele convenceu a multidão, e a multidão… Bem, a multidão convenceu o rei, chamado Augusto o Forte. E como o rei estava afundado em dívidas, essa habilidade do mágico de rua meio que apareceu em uma boa hora.

Augusto o Forte, como era conhecido, ganhou esse apelido por quebrar ferraduras com as mãos e outras coisas mais que também pareciam inquebráveis. A forma como se comportou em relação ao mágico Böttger poderia acabar lhe rendendo outros apelidos, no entanto, tais como Augusto o Crédulo, Augusto o Cheio de Dívidas ou até Augusto o Pavio Curto. Já entendeu tudo, né?

Pois foi isso mesmo que aconteceu. O rei manteve Böttger sob a custódia até que ele fizesse ouro suficiente para quitar todas as dívidas. Rei Augusto, o Folgado.

Böttger então não tinha saída. Ele precisava fazer a mágica do ouro de QUALQUER JEITO.

Ele teve acesso a vários aparatos experimentais, mas nenhum deles deu conta do recado. Então, resolveu mudar o foco de sua experiência para tentar fazer a argila à prova de calor. Isso o ajudou a encontrar Ehrenfried Walter von Tschirnhaus, que também trabalhou para o tal rei. Depois de alguns experimentos, eles conseguiram criar uma argila mais dura, mais fina e que era à prova de arranhões, mas que continuava sendo delicada. Eles tinham acabado de criar a porcelana!

E a porcelana foi, em muitos aspectos, mais importante do que o ouro.

Ouro poderia ser encontrado em qualquer lugar, mas toda a porcelana que existia na época só vinha da China. Era um sinal de prestígio, portanto, e os europeus estavam desesperados para colocar as mãos nesse material.

Böttger e Tschirnhaus conseguiram, enfim, encontrar uma solução para que a porcelana fosse produzida através de uma mistura de argila branca, chamada caulim, e um tipo específico de feldspato. Eles descobriram também quão quente deveria estar o forno para produzir a porcelana e encontraram um jeito de manusear o esmalte de maneira mais eficiente. Depois de sete anos, Böttger finalmente conseguiu entregar para o rei um material que valia seu peso em ouro e ganhou (ainda que em uma quantidade limitada) sua liberdade.


A descoberta da porcelana

A descoberta de porcelana, contudo, não acabou com a necessidade da Europa de fazer comércio com a China, já que havia muitas outras invenções, produtos e recursos que os europeus estavam desesperados para ter em mãos.

Ainda assim, a descoberta europeia de porcelana não só mudou a relação da Europa com a China, como a tornou mais equilibrada. A corrida mudou de foco, e passou a ser em busca de territórios ricos em caulim e feldspato.

E tudo isso por causa de um mágico de rua que fez um rei acreditar que era Midas.


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