5 mitos ambientais que muitas pessoas ainda acreditam

Você pode não ser um ambientalista, mas é difícil negar que precisamos de ar para respirar, água para beber e terra para cultivar o que comemos (e bebemos também!) e, a partir dessa observação, é razoável concluir que as atividades que poluem o meio ambiente são algo que deveríamos considerar minimizar.

Há sérias diferenças de opinião sobre os riscos e impactos de determinadas atividades no planeta, mas os ignorantes ou equivocados exigindo que todos parem de salvar o meio ambiente ou implorando para que o salvemos de todas as maneiras erradas também não estão ajudando. Confira os principais mitos ambientes perpetuados:

1. O aquecimento global não cancela o inverno




Cada vez que neva (em locais que geralmente nevam, é claro), algum ser de alta inteligência profere a famosa frase: “Aquecimento global torna o mundo mais quente, está muito frio, portanto o aquecimento global não é um mito”.

É um raciocínio bastante impecável, realmente, se você deliberadamente ignorar tudo o que sabemos sobre o clima.

Aquecimento global não significa um aumento igual e universal de temperatura em todas as áreas, como se um Deus se debruçasse sobre o termostato da Terra. Sim, em média, a temperatura subiu – e vai continuar subindo -, mas, mesmo assim, não por um valor imediatamente alarmante a ponto de parar de nevar no globo.

A maioria dos especialistas tem parado de usar a expressão “aquecimento global” e passado a referir-se a esta questão como “mudança climática”, um termo menos atrativo, mas mais preciso para o fenômeno, considerando alguns de seus efeitos contraintuitivos.

Por exemplo, o aumento da temperatura dos oceanos significa um aumento da evaporação, o que resulta em mais água na atmosfera que tem que descer de alguma forma, inclusive como mais neve. Além disso, o gelo derretido do Ártico pode enfraquecer a corrente de ar da região, que, entre outras coisas, é responsável por manter o frio ártico no Ártico – e não na sua casa.


Provavelmente, a maneira mais simples de resumir os efeitos do aquecimento global é dizendo que o clima com certeza mudará. Isso não soa tão ruim, exceto que passamos anos construindo cidades em locais que não inundam, fazendas em lugares com bastante água e hotéis de gelo em locais com gelo, etc. Ou seja, uma enorme quantidade de dinheiro e esforço humano contam com a permanência do clima do jeito que ele é hoje. E quando o primeiro dominó da fila for derrubado, um hotel de gelo a menos no mundo será a menor de nossas preocupações.

2. O mundo moderno não está dando câncer a todos



Estamos cercados de todo tipo de porcaria cheia de produtos químicos com nomes incrivelmente longos, que certamente não podem ser bons para nós. Também carregamos dispositivos eletrônicos pressionados contra a nossa virilha ou nossas cabeças todos os dias. 

Além disso, Cheetos são bizarramente laranjas.

Acrescente a essas informações um dado assustador – as taxas de incidência de câncer só tem aumentado – e a conclusão é inevitável: o mundo moderno é o culpado.

Mas não é. O principal fator de risco para o câncer é a idade. Quanto mais velhos ficamos, a mais substâncias cancerígenas somos expostos, e maior o nosso risco de câncer. Como todos estamos vivendo mais por conta do fato de que descobrimos a penicilina e insulina, a incidência de câncer também é maior.

O câncer também é causado por outras coisas além de cancerígenos, por exemplo, células se atrapalhando no momento de se dividirem. Alguns pesquisadores afirmam que, se vivêssemos tempo suficiente, todos iríamos ter câncer.

Mas, pessoas, sejam razoáveis. Isso não lhes dá licença para enfiar o pé na jaca, porque certamente você aumentará seu risco de ter câncer. Embora a taxa global da doença não tenha mudado tanto com o tempo, a incidência de alguns cânceres específicos de fato aumentou muito.


Em resumo: o câncer não é uma praga da era moderna, e não estamos pagando pelos pecados da humanidade. Contanto que você minimize sua exposição à fumaça de cigarro, radiação e carne vermelha, suas chances são boas de viver sem a doença.

3. Reciclagem não é inútil



Todos já ouvimos a opinião de que devemos parar de reciclar por causa dos problemas envolvidos (e são muitos – veja aqui) e porque é caro. De fato, é caro – reciclagem exige caminhões, funcionários, instalações dedicadas para classificar e processar os produtos, etc.

Mas quem diz que reciclar é muito caro parte do pressuposto de que jogar coisas fora é gratuito e, meu querido, certamente não é. Os aterros sanitários também saem caro, precisando dos mesmos caminhões e funcionários, além de várias outras coisas. Por exemplo, o lixo tem que ser compactado e coberto de solo (para combater o mau cheiro e os pássaros que desesperadamente desejam mover o lixo de volta para a cidade), e tudo isso tem que ser feito em camadas cuidadosamente projetadas para que a montanha de porcarias não caia sobre os coitados que trabalham lá. Depois, há os custos associados com o tratamento de lixiviados e a monitorização das águas subterrâneas para evitar contaminação, dentre outras despesas.

Isso tudo, claro, se você já tiver um aterro onde jogar seu lixo. Se você quiser construir um novo, são anos de projeto e engenharia gastos, com a adição de um pequeno problema: ninguém quer um lixão perto deles, e assim que você propor a localização para o aterro, todo mundo ao seu redor vai pirar e dificultar a ação pelo maior tempo possível.

Mas vamos dizer que nosso argumentador incrivelmente esperto sabe disso e ainda assim diz que a reciclagem sai muito cara (ele não está de todo errado – o aterro custa até 50% o preço da reciclagem). O problema é a comparação que ele quer fazer. Para que ela seja justa, temos que levar em conta o fato de que materiais recicláveis podem ser vendidos, bem como o custo total do ciclo de construir novos produtos e jogá-los nos aterros versus parcialmente reciclá-los.


Tome como exemplo as garrafas de plástico que discutimos anteriormente, que são recicladas e transformadas em produtos como cadeiras de baixa qualidade, por exemplo. Bem, se não estivéssemos fazendo essas cadeiras de garrafas de plástico, estaríamos fazendo de petróleo (que é do que plástico é feito, crianças), e como você já deve ter ouvido, ele não está ficando mais barato. A melhor solução provavelmente seria que as pessoas comprassem menos produtos de plástico (pausa para gargalhadas), mas como isso não vai acontecer no futuro próximo, a reciclagem está longe de ser uma atividade inútil.

4. As coisas raramente são recicladas em si mesmas




Todos nós sabemos como funciona a reciclagem – você usa uma coisa, joga a coisa fora, e ela é reciclada e se torna uma coisa nova de novo.

Só que não, não é assim que funciona. Devido a todo o papel, cola, tinta, restos do produto e fluidos corporais que vêm em uma garrafa reciclada média, por exemplo, quando este material é derretido, resulta em um produto de baixa qualidade. As garrafas recicladas de melhor qualidade podem se transformadas novamente em garrafas novas, mas isso é apenas uma fração delas. A maioria das Coca-Colas se transforma em produtos mais baratos, como tapetes.

Isso significa que uma enorme quantidade dos produtos recicláveis que compramos ainda são feitos com matérias-primas virgens, como o papel, que recicla com bastante facilidade, mas esse processo corta as fibras que dão a sua textura, e por isso papel reciclado nunca é tão suave ou de alta qualidade quanto o material fresco.

Isso não é de todo ruim, no entanto. Temos uma abundância de usos para papeis não-tão-suaves, como embalagens e guardanapos baratos. E alguns materiais são altamente aptos para a reciclagem, como latas de alumínio, que podem ser recicladas em um produto com a mesma qualidade utilizando 5% da energia necessária para fazer novas latas.

Então, por favor, não parem de reciclar, porque…

5. Seu filho não vai ficar sem água



Não, a quarta guerra mundial não vai acontecer dentro de dez anos por causa da falta de água. Sim, a demanda por água triplicou apenas nos últimos 50 anos. Sim, os níveis de água estão caindo em muitos dos países mais populosos. E, principalmente, sim, muitos dos maiores rios do mundo perderam volume ou secaram completamente.

Apesar de serem alarmantes, esses dados confundem as pessoas, levando-as a pensar que há uma falta de água no mundo. Nosso planeta não está ficando sem água. Há cerca de 1.362 quintilhões de litros de água no planeta e ela não está indo para lugar nenhum, e sim apenas circulando. Esse processo é mais velho que o próprio tempo: evaporação, condensação, precipitação, infiltração e assim por diante. Inclusive, há mais água em forma líquida no planeta do que havia algumas décadas atrás, devido em parte ao aquecimento global e o derretimento das calotas polares.

O problema é que a vasta maioria da água da Terra está nos oceanos e deve ser dessalinizada antes de ser utilizada para consumo ou irrigação. Dessalinização em larga escala é possível, mas é cara. Água doce também não está desaparecendo da face da Terra, mas está escassa em alguns lugares específicos, e levá-la de onde ela existe em abundância até onde não há nada dela (como a transposição, o projeto para levar água do rio São Francisco a áreas secas do Nordeste) sai (você adivinhou) caro.


Lógico que isso não significa que você pode lagar sua torneira aberta o dia todo. A água nunca é realmente “desperdiçada” – é o recurso mais renovável que existe -, mas se você larga a sua torneira pingando o dia todo, isso é água limpa que deixa de ser usada, e o que se perde é dinheiro e energia. E, claro, desperdiçar dinheiro e energia afeta o meio ambiente negativamente.

Fonte: http://hypescience.com

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