Acredite se quiser: a raiva pode ser um sentimento positivo


Parece ser consenso que a raiva não é um sentimento dos mais bacanas. Quando ela é exagerada ou quando é aplicada de forma inadequada, pode causar danos graves – não que isso não possa ser dito sobre qualquer outra emoção.

Mas aqui vai uma novidade: a raiva pode tornar você mais inteligente, mais competente e mais realista.


A raiva é um ótimo substituto para o medo ou o desespero

Mesmo sendo tão desagradável, a raiva é um piquenique em um dia de sol quando comparada com o terror, a depressão ou o desespero. Isso soa como se estivéssemos nos contentando com pouca coisa, mas não é.

Ninguém nunca vai ter uma vida tão calma e iluminada em que nada de ruim aconteça. A menos que sejamos capazes de alcançar a serenidade, em um ponto de total desapego, quando coisas ruins acontecem, nós sentimos emoções negativas, e a raiva pode ser a melhor opção.

Pesquisadores da Universidade Carnegie Mellon (EUA) pegaram 92 voluntários e os submeteram a uma experiência levemente desagradável. Os voluntários foram convidados a contar para trás a partir de 6.233 de treze em treze. Conforme os voluntários contavam 6.220, depois 6.207, depois 6.194, os pesquisadores impacientemente diziam para eles acelerassem o processo. Quando os indivíduos erravam, tinham que começar tudo de novo.

Para aumentar um pouquinho o desconforto, eles estavam sendo gravados por uma câmera. Conforme os voluntários passaram pelo experimento, os pesquisadores analisaram as suas expressões faciais, observando se os voluntários expressavam medo ou constrangimento.

Após o teste, os voluntários tiveram suas bocas esfregadas, sua pressão arterial tomada, e seus batimentos cardíacos gravados. Aqueles que expressaram raiva ante a situação apresentaram menor pressão arterial e menos hormônios do estresse na saliva do que aqueles que expressaram medo. A raiva não é lá muito boa para o corpo, mas não faz o estrago que o medo faz.

A raiva também dá às pessoas uma sensação de poder. O poder é importante se algo precisa ser feito, mesmo que esse “algo” seja permanecer vivo.
Pessoas que sentem raiva também se sentem fortes e energizadas. Logo após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 nos EUA, um grupo de pesquisadores entrevistou quase 2.000 pessoas a respeito dos seus sentimentos. Alguns meses depois, eles chamaram as pessoas de volta e mandaram-nas olhar para duas coleções diferentes de mídia. Uma coleção foi concebida para abordar os assuntos com raiva. Ela incluía, por exemplo, vídeos de pessoas comemorando os ataques. A outra coleção de mídia foi feita para fazer uma abordagem através do medo. Depois de assistir a mídia, as pessoas com raiva sentiam-se mais confiantes e otimistas sobre toda a situação do que os medrosos.
Os indivíduos irritados também foram um pouco mais realistas sobre as suas chances de serem feridos por um terrorista no ano seguinte. Só um pouco. O grupo da raiva estimava uma chance de 19%, enquanto o grupo do medo acreditava em uma chance de 23%. Ainda assim, a raiva permitiu que as pessoas chegassem mais perto da verdade que, como sabemos agora olhando para o passado, era uma chance de praticamente 0%. Pessoas com raiva têm uma visão mais realista sobre a vida do que as assustadas.
A raiva deixa você pronto para uma disputa intelectual

No caso da pesquisa do terrorismo, é provavelmente verdade que as pessoas não propensas a qualquer tipo de excesso emocional poderiam ter sido ainda melhores em realisticamente estimar suas chances de ser atacadas. Nesse caso, a raiva foi uma resposta mais inteligente do que o medo, mas não foi uma resposta inteligente em si. A raiva se sai melhor em outras situações.

Já percebeu que você é instantaneamente capaz de detectar as falhas em todos os argumentos políticos que você não concorda? Claro que todos nós gostamos de fingir que é porque quem discorda de nós faz isso porque são irracionais, enquanto o nosso raciocínio é à prova de qualquer falha, mas a verdade é que olhamos para os argumentos que nos irritam de uma forma um pouco mais crítica. Um estudo sugere que é a raiva, e não apenas a motivação política, que ajuda as pessoas a apontar falhas.

A raiva é um distúrbio mental?

Os pesquisadores responsáveis ​​pelo estudo recrutaram estudantes voluntários e pediram que a metade deles recordasse vividamente uma memória que ainda os deixasse loucos. (Não fosse o suficiente, os pesquisadores recrutaram um outro grupo inteiro de voluntários e pediu-lhes para afirmar as suas esperanças e sonhos. Na metade do tempo, um outro membro do grupo – na verdade um investigador disfarçado – criticou os planos dos colegas, a fim de deixá-los furiosos).

Depois, os sujeitos foram apresentados a um de dois artigos que defendiam a importância da prudência financeira após a graduação. Os textos continham tanto argumentos fortes, apoiados em fontes sólidas, como argumentos fracos e sem suporte. Quando foi solicitado que criticassem a lógica dos textos, os alunos irritados eram muito mais capazes de distinguir argumentos fracos e fortes. Além do mais, eles eram mais propensos a serem convencidos pelos argumentos fortes. Por mais que nos pareça que a irritação nos faça perder a razão, uma pequena faísca de raiva pode nos dar a capacidade de pensar criticamente e força de vontade para entrar em sintonia com bons argumentos.

A raiva pode ser boa para sua habilidade de se relacionar com as pessoas

Então a raiva nem sempre faz de você um animal irritado e estúpido, incapaz de construir um argumento ou passar pela vida. Mas ela te deixa isolado do resto do mundo, certo?

Nem sempre.

Em um estudo, quando as pessoas foram convidadas a observar quando sentiram raiva e pensar sobre o que poderiam fazer sobre isso, muitas vezes elas encontraram maneiras de parar de estar com raiva. Por exemplo, se você odeia ouvir conversas de celular altas no ônibus, ouça música. Pensar na raiva como um sinal de que um problema precisa ser resolvido, e não como o motivo para uma batalha, pode melhorar muito seus relacionamentos.

Em, sim, nem todos os relacionamentos precisam ser melhorados. Alguns só precisam chegar a um acordo. Estudos sobre mediação descobriram que, embora a maioria das disputas sejam prejudicadas por expressões de raiva, quando um lado encontra-se particularmente “vulnerável”, um pouco de raiva expressa por outro lado não faz mal para o processo. Ok, expressar raiva contra os vulneráveis ​​não soa como uma coisa positiva, mas considerando a mediação, estar “vulnerável​​” muitas vezes equivale a estar no lado errado. Estar errado sobre certas coisas merece um pouco de raiva.

E a raiva afeta mais do que apenas a pessoa que a expressa e a pessoa que a recebe. Também afeta as pessoas que observam ela sendo expressada. A raiva não é apenas pessoal, é social – pelo menos de acordo com os sociólogos. Por estarmos visivelmente irritados, estabelecemos normas sociais, e estabelecemos que as normas sociais precisam mudar. Nós dividimos a nossa parte com um certo grupo de pessoas, mesmo que a nossa “parte” seja apenas a nossa irritação visível. A raiva é uma forma de mostrar o apoio para o que consideramos certo.

Todo mundo sabe que há momentos em que a raiva leva as pessoas a fazer coisas terríveis, mas ela não é apenas uma emoção destrutiva. Pode ser inteligente e restauradora. O negócio é usá-la de forma correta.


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