Chimpanzés usam até 66 gestos para se comunicar, diz estudo


Uma equipe de pesquisadores da Universidade de Saint Andrews, na Escócia, estudou 120 horas de filmagem que continham chimpanzés interagindo entre si. Não era para brincar de Tarzan, mas sim para analisar o “repertório gestual” destes animais, sua interação e sinais. Eles acabaram criando um dicionário de 66 gestos que se repetiam. Estudos anteriores apontavam 30 movimentos diferentes que eles usavam para se comunicar.

Segundo a autora do estudo, Catherine Hobaiter, “achamos que as pessoas viam apenas uma fração de tudo, porque quando você estuda animais em cativeiro, não consegue perceber todo seu comportamento. Você não os veria caçando, cortejando as fêmeas ou encontrando grupos vizinhos de chimpanzés”. Ela e sua equipe passaram 266 dias observando e filmando um grupo desses animais em Budongo, Uganda.
“Eu passei dois anos estudando aquele grupo, então eles já me conhecem”, disse Catherine. “Eu os sigo pela floresta e eles simplesmente me ignoram e continuam com suas atividades rotineiras”. Ela e seu colega, Richard Byrne, analisaram e categorizaram cada gesto. Os dois procuravam por sinais claros de que os movimentos eram deliberados e que havia a intenção de gerar uma resposta de outro animal. “Esperávamos para ver se aquele que gesticulava estava olhando para seu público. Também procuramos sinais de persistência, digo, caso sua ação não tivesse resultado, víamos se ele a repetia”, disse Byrne.

A próxima etapa é tentar interpretar cada gesto e decifrar o que cada um deles significa. De acordo com os pesquisadores, alguns parecem ter razões óbvias, como quando um chimpanzé acena com a cabeça quando encontra outro, ou quando um mais jovem aperta a mão de outro quando quer brincar.

Em uma das cenas, uma mãe estica o braço esquerdo em direção à filha. “Ela queria sair dali e estava gesticulando para pedir à filha que ‘subisse’ nela”, disse Catherine. “Ela poderia ter simplesmente agarrado a filhote, mas não o fez. Ela fez o gesto e aguardou a resposta”. Quando outros animais se aproximam, a mãe repete o gesto e mostra os dentes, então, a filha sobe em seus braços e as duas saem do local.

Contudo, de acordo com Byrne, às vezes as ações não tem o efeito esperado. “Para entender o significado, não basta buscar os efeitos típicos. Precisamos entender qual é a ação que o faz parar de tentar se comunicar, porque já está satisfeito com a resposta que obteve. Só assim saberemos qual era a intenção”.

Os resultados deram pistas sobre a origem dos gestos dos chimpanzés, e sugeriram que seu sistema de comunicação é muito parecido com o de outras espécies. Inclusive, ao comparar os gestos deles com o de gorilas ou orangotangos, os pesquisadores perceberam coincidências significativas. “Isso nos faz acreditar que os gestos que os símios usam, e talvez a dos humanos também, derivaram de um ancestral comum”, conclui Byrne. 

Comentários